Perturbações ou Distúrbios Alimentares

Fevereiro 4, 2011 2 Comments »
Perturbações ou Distúrbios Alimentares


Tudo sobre as Perturbações ou Distúrbios Alimentares

Actualmente tem se abordado com mais ênfase esta problemática, não só pela recente notícia da morte da modelo francesa: Isabelle Caro, que faleceu aos 28 anos vítima de anorexia, mas também por esta patologia ter uma maior prevalência nos adolescentes do sexo feminino, numa faixa etária compreendida entre os 15 e os 25 anos de idades. Este jovens lutam desenfreadamente por alcançar um corpo perfeito para muitas vezes concretizarem o sonho de serem modelos ou porque simplesmente pensam estar acima do peso desejado. Os contextos mais propícios a desencadearem estes distúrbios são por exemplo: moda, ballet e desportos que enfatizam um determinado peso. Apesar destas perturbações serem mais comuns no sexo feminino, actualmente existem já alguns homens que padecem das mesmas. Este é só um pequeno exemplo generalizado da população onde as perturbações alimentares ocorrem com mais frequência, por entenderem que a solução para serem magras (segundo os actuais padrões de beleza) passa definitivamente por iniciarem uma dieta rigorosa e desadequada, desconhecendo ou ignorando as consequências nocivas para a saúde que a longo prazo, pode conduzir à morte.

Mas afinal que tipo de perturbações alimentares existem? Quais os seus sintomas? Quais os sinais de alerta?

Estas são algumas questões pertinentes que irei abordar e dar resposta para que possamos explorar, reflectir, prevenir e tratar esta problemática.

As perturbações alimentares podem assumir duas formas: Bulimia Nervosa e Anorexia Nervosa.

Para além destas duas patologias existe ainda outra Perturbação que vou abordar de seguida:

Perturbação de ingestão alimentar compulsiva

Esta perturbação caracteriza-se por episódios recorrentes de:

  • ingestão compulsiva, num curto espaço de tempo (por exemplo em duas horas), de uma quantidade de comida muito superior à que a maioria das pessoas poderia consumir ao mesmo tempo e em circunstâncias semelhantes. Os principais sintomas da ingestão compulsiva são os seguintes:
  • Ingestão mais rápida que o habitual;
  • Comer até se sentir desagradavelmente “cheio”
  • Ingestão de grandes quantidades de comida mesmo sem ter fome;
  • Comer sozinho e esconder a comida para que as pessoas não se apercebam desta situação;
  • Sentir-se mal consigo próprio, depressão ou grande culpabilidade após a gestão compulsiva.

Estes sintomas são geralmente associados ainda a um profundo mal estar ao recordar as ingestões compulsivas. Em termos de duração estas podem acontecer, em média, pelo menos DOIS DIAS na mesma semana durante 6 MESES.

É importante acrescentar que a referida ingestão compulsiva não está associada necessariamente a estratégias compensatórias inadequadas como por exemplo: purgantes, jejum, exercício físico excessivo e não surgem exclusivamente no decurso de uma Anorexia ou de uma Bulimia.

Quando falamos em Bulimia e Anorexia, muitas vezes acabamos por confundir estas duas patologias, que na realidade pertencem ambas ao grupo dos Distúrbios alimentares. No entanto, apesar de terem algo em comum, há uma necessidade de as caracterizar e indicar as suas características de uma forma individualizada para que se perceba a sua natureza e características associadas e sobretudo para que se entendam as suas diferenças.

Bulimia Nervosa

Esta perturbação apresenta:

  1. Episódios recorrentes de ingestão alimentar compulsiva; (acima referida)
  2. Comportamento compensatório inapropriado recorrente para impedir ganhar peso, exemplo: vomitar, usar laxantes ou diuréticos, estar em jejum, ou exercício físico excessivo.

Duração: – A ingestão compulsiva de alimentos ou ingestão de alimentos compensatórios inapropriados, ocorrem ambos, em média 2 vezes por semana em três meses consecutivos.

Inserido na BULIMIA NERVOSA pode se verificar a existência de duas tipologias:

  • Tipo Purgativo: acontece quando a pessoa induz regularmente o vómito ou uso de laxante ou diurético;
  • Tipo Não Purgativo: Quando é utilizado outros comportamentos compensatórios inapropriados, tal como jejum ou exercício físico excessivo, de salientar que nesta tipologia não se verifica a indução do vómito ou uso de laxantes/diuréticos.

Anorexia Nervosa

Na Anorexia verifica-se os seguintes comportamentos:

  1. Recusa em manter um peso corporal minimamente normal par a idade e altura ,por exemplo: perda de peso maior que a necessária para manter um peso esperado ou incapacidade em ganhar peso esperado ou desejado para o crescimento, ficando este muito aquém do previsto
  2. Medo Intenso de ganhar peso ou ficar gorda, mesmo quando já está muito magra, continuam a achar que estão com excesso de peso ao ponto de percepcionarem esta situação quando vêem a sua imagem reflectida (distorção da imagem corporal)
  3. Perturbação na apreciação do peso e forma corporal na auto-avaliação ou de negação da gravidade do acentuado emagrecimento actual
  4. Nas raparigas após a menarca (período menstrual) surge a amenorreia ou seja, ausência de pelo menos 3 ciclos menstruais seguidos. Note-se que uma mulher é considerada amenorreica caso a menstruação somente ocorra após administração hormonal, por exemplo, estrogénios.

À semelhança da BULIMIA anteriormente identificada a ANOREXIA  assume duas tipologias:

  • Tipo Restritivo: ocorrer durante o período actual em que  a pessoa não recorre regularmente à ingestão compulsiva de alimentos, nem a purgantes exemplo ( vómito ou mistura de laxantes/ diuréticos)
  • Tipo Ingestão Compulsiva/Tipo Purgativo: Verifica-se quando durante o episódio actual a pessoa tem comportamentos bulimicos (vómitos, uso de laxantes ou diuréticos)

Fonte: Quadro dos critérios de diagnóstico e Estatística das perturbações mentais( DSM IV)

Quais as principais complicações médicas?

Ao nível dermatológico verifica-se:

  • Pele seca e escamosa/ pele pálida
  • Queda de cabelo (cabelo fraco)

A nível cardiovascular.

  • Hipotensão (tensão arterial baixa)
  • Arritmias cardíacas (ritmo cardíaco desadequado)

A nível gastrointestinal:

  • Esvaziamento gástrico demorado
  • Aumento abdominal e flatuência: provocado pelo uso insuficiente do sistema gastrointestinal, o que causa atrofia muscular e flacidez do estômago e intestinos.
  • Diarreia

Outras complicações significativas:

  • Amenorreia (Ausência do período menstrual);
  • Hipotermia (Sensação de frio)
  • Osteoporose
  • Ausência de concentração;
  • Falta de capacidade para trabalhar, estudar e manter um relacionamento inter-pessoal ajustado (verifica-se isolamento social, baixa auto-estima e humor deprimido, a pessoa não gosta da sua imagem e por vezes sente vergonha em sair de casa).

Muitas mais complicações fisiologias poderão ser desencadeadas como consequência das Perturbações alimentares, no entanto, ficam aqui referenciadas as principais.

É importante referir que quanto mais tempo a doença estiver instalada, mais notórios serão os sinais e consequências fisiológicas. Quando não tratadas devidamente ou tardiamente estes distúrbios alimentares podem conduzir ao um desfecho infeliz.

Quais os factores de Risco inerentes às Perturbações Alimentares?

Quando falamos em factores de risco, referimo-nos às situações mais comuns que estão na origem destas patologias, são estas:

  1. Factores Socioculturais: A pressão social para atingir uma figura corporal magra (ideação de beleza )
  2. Factores Psicológicos: Pessoas com uma personalidade mais vulnerável com Baixa auto-estima, Perfeccionistas e mais dependentes, ou seja, com uma maior dificuldade de autonomia e individualização, têm uma maior tendência para adquirirem comportamentos que conduzem aos distúrbios alimentares.
  3. Factores Familiares: situações onde existem casos de famílias disfuncionais e perturbadas em que se verifica a pressão para possuir uma imagem corporal magra e onde se atribua uma importância exacerbada às dietas.

São estes os principais Factores que se encontram associados aos Distúrbios da alimentação, sendo que quanto mais expostas as pessoas se encontram dos mesmos, maior será a probabilidade de desenvolverem estas patologias.

Que tipo de SINAIS podem alertar para o aparecimento da ANOREXIA e da BULIMIA?

É importante termos conhecimento dos principais sinais que evidenciam a presença da doença, para ser possível o seu tratamento numa fase inicial, evitando desta forma a evolução da mesma.

Para a ANOREXIA os sinais de alerta mais importantes são os seguintes:

  • Perda de peso acentuada e aspecto físico excessivamente magro e debilitado;
  • Ingerir pequenas quantidades de alimentos e preocupação excessiva com a ingestão de calorias associadas a dietas rigorosas;

Durante as refeições:

  • Dividem a comida em pequenos pedaços;
  • Comem muito devagar
  • Escondem a comida (de forma a demonstrar que já comeram)
  • Recusam  ingerir determinados alimentos;
  • Contabilizam todas as calorias ingeridas
  • Evitam estar acompanhados durante as refeições;
  • Praticam desporto de forma excessiva e descontrolada;
  • Apresentam evidências de vómito induzido e uso de laxantes e diuréticos;
  • Responsabilizam-se em casa por comprar a comida e prepará-la embora não comam quase nada ou evitam comer.

Outras situações:

  • Visualizam uma imagem corporal distorcida e têm preocupação excessiva com o peso e forma corporal;
  • As mulheres perdem o ciclo menstrual;
  • Ingerem grandes quantidades de alimentos num curto espaço de tempo;
  • Praticam exercício físico excessivo
  • Evidênciam sinais de vómito auto-induzido: retirar-se da mesa para ir à casa de banho, logo após a refeição;
  • Usom e abusam de laxantes, diuréticos e comprimidos para emagrecer;
  • Comem de forma descontrolada (sem conseguir parar);
  • Preocupação excessiva com a imagem corporal;
  • Comem às escondidas e sobretudo durante a noite;
  • Evitam comer em público;

Preparar refeições diferentes da do resto da família com horários distintos.

Relativamente à BULIMIA e depois de já termos abordado as características que a definem, os sinais mais relevantes e que dever-se-ão ter em conta são os seguintes:

  • Ingerir grandes quantidades de alimentos num curto espaço de tempo;
  • Praticar exercício físico excessivo
  • Evidência de vómito auto-induzido: retirar-se da mesa para ir à casa de banho, logo após a refeição;
  • Uso e abusos de laxantes, diuréticos e comprimidos para emagrecer;
  • Comer de forma descontrolada (sem conseguir parar);
  • Preocupação excessiva com a imagem corporal;
  • Comer às escondidas e sobretudo durante a noite;
  • Evitar comer em público;

Que medidas preventivas devemos ter em consideração nas perturbações do comportamento alimentar?

De seguida passo a identificar as medidas de prevenção mais relevantes e que podem contribuir para evitar perturbações comportamentais a nível alimentar.

Devemos ter em conta as fases de desenvolvimento em que a pessoa se encontra para assim adaptar a forma preventiva mais adequada.

Crianças:

É nesta fase que é crucial incutir valores e ideais correctos que poderão passar por:

  • Actividades que levam à aceitação de variadas formas corporais, sem atribuir demasiada importância à estética corporal e à figura magra;
  • Prática de alimentação saudável e exercício físico regular;
  • Fornecer formação pessoal de forma a proporcionar uma maior resistência a pressões que direccionam a atenção para a figura corporal demasiado magra

Adolescentes:

Esta é a fase da vida em que a importância dos valores transmitidos pelas figuras parentais são remetidas para segundo plano, e por consequência a maioria das atitudes e ideais que os pais transmitem são desvalorizados pelos adolescentes. Nesta fase do desenvolvimento é o grupo de pares (amigos/ colegas) que passam a ter importância e constituem uma verdadeira fonte de influência e modelos a seguir. Desta forma é necessário estar mais atento, manter o diálogo e acompanhar de forma mais interventiva os adolescentes:

  • Transmitir conhecimentos das mudanças físicas, emocionais e sociais associadas à puberdade (por exemplo, nas mulheres após o período menstrual o corpo sofre acentuadas transformações);
  • Promover competências de regulação do peso saudável (alimentação equilibrada e prática de exercício físico regular)
  • Alertar para as desvantagens e consequências de uma dieta rígida como sendo prejudiciais para o organismo.
  • Apoiar os adolescentes e fornecer-lhes recursos e competências pessoais (aumento da auto-estima e percepção da imagem corporal adequada) que permitam lidar com a pressão social e dos pares (amigos/colegas) duma figura corporal magra.

Qual a intervenção mais adequada?

Não existe uma intervenção standard e que sirva para intervir em todas as situações. Cada caso deve ser avaliado individualmente tendo em consideração todas as suas especificidades, factores, comportamentos, contexto, sinais e todos os outros aspectos referidos anteriormente. A base de qualquer intervenção é aceitação da doença e a vontade de querer ser ajudado.

Ainda assim existem aspectos em comum que estão presentes na maioria das intervenções com este tipo de patologias:

  1. Aumento da auto-estima: desenvolvimento de um auto-conceito positivo e consistente que não depende da imagem corporal (valorizar aspectos intelectuais, emocionais e outros aspectos positivos da personalidade que façam com que a imagem corporal não seja tão valorizada e não seja considerada como algo fundamental para a pessoa);
  2. Transmitir a importância da alimentação saudável e prática de exercício físico diário adequado como forma de manter o peso corporal contribuir para um estilo de vida saudável;
  3. Planear horários de refeições (comer pouco varias vezes ao dia);
  4. Educação sobre efeitos da dieta e consequências físicas da indução do vomito ou da ausência da ingestão de alimentos;
  5. Identificar alimentos tidos como proibidos e introduzi-los de forma gradual na dieta;
  6. Registo de pensamento considerados distorcidos (imagem corporal distorcida e tentar alterar essa imagem consciencializando para a imagem real do corpo)

Numa fase mais avançada da intervenção dever-se á valorizar a manutenção dos ganhos conquistados (a pessoa vai passar a comer mais) e prevenir possíveis recaídas.

Estas são algumas dicas de intervenção para o tratamento dos Distúrbios alimentares, no entanto, se identificar alguém que lhe seja próximo que apresente indícios de sofrer desta patologia não hesite em consultar um psicólogo.

Não se esqueça vale mais prevenir antes que seja tarde demais!


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