O Nascimento dos Filhos e o Contexto Familiar: Crise Pós-Parto

O ciclo de vida é sem dúvida algo espantoso e inexplicável que implica alterações e mudanças drásticas tanto ao nível pessoal como familiar. Este artigo vai focar sobretudo a fase da gravidez, e o impacto que a chegada de um novo elemento provoca no contexto familiar. Do ponto de vista psicológico, são notórias as implicações que esta fase tem sobretudo para a mulher que assume um novo papel: o de mãe.

A família como sub-sistema parental: Mudanças

No momento do nascimento, todas as atenções estão direcionadas para o recém-nascido. Assim à medida que o tempo passa, a relação conjugal vai-se alterando, fazendo com que o casal não tenha o tempo desejado para se dedicar à sua relação.

No que concerne à mulher, existem diversas alterações hormonais que interferem no seu estado emocional, provocando maior sensibilidade, irritação e cansaço, devido à dificuldade em saber lidar com o bebé; conciliar as suas atividades domésticas, acreditando que, devido ao facto de permanecer o dia todo em casa, será capaz de cuidar de tudo sozinha.

Os homens nem sempre conseguem perceber essas dificuldade acabando por perder a atenção exclusiva da sua mulher, tendo que dividi-la com o bebé, pois a mãe vai priorizar o filho em detrimento do pai.

Para além do relacionamento, a parte sexual do casal pode ficar de certa forma prejudicada, uma vez, que a mulher tende a evitar ter relações sexuais por um determinado período de tempo, até que o seu corpo recupere e volte ao “normal” após a gravidez e o parto; o seu desejo sexual diminui em função do stress causado pela mudança de rotina, pela falta de sono adequado e pelo acumular de novas tarefas.

Ambos deixam de ser apenas um casal, passando a existir mais um elemento na família, o que os leva a cumprirem mais um papel em conjunto: o de pais. O diálogo, a compreensão e paciência são primordiais para o casal nesta fase de adaptação a novas experiências.

A depressão na mulher pós-parto

O sentimento de estar grávida representa para a mulher, do ponto de vista psicológico, um olhar sobre si mesma, um investimento no seu próprio corpo, na sua imagem, no que esta possui: vida.

No entanto, este período nem sempre é encarado de forma positiva para todas as mães, pois estas têm de saber adaptar-se às mudanças que irão ocorrer durante a gravidez, nomeadamente ao nível físico (por exemplo, aumento de peso e a aquisição de uma forma corporal diferente), psicológico e social. Por exemplo, o nascimento de um bebé para a mãe pode constituir uma ameaça à união do casal, surgindo muitas vezes uma dificuldade em partilhar a atenção com um terceiro elemento. É devido a fatores como os acima mencionados que surge a depressão pós -parto que é caracterizada como um estado depressivo que afeta a mulher após ter dado à luz.

Os sintomas da depressão pós-parto:

A depressão é caracterizada por falta de vontade de viver ou por medo de enfrentar algo que a pessoa acha que não consegue superar ou medo de algo com o qual ela se sente incapaz de lidar.

Esta situação depressiva tanto pode surgir na infância como na adolescência, bem como, na vida adulta ou mesmo após o parto.

Em qualquer das situações a pessoa com depressão sente-se incapaz de lidar com algo, ou sente que não vale a pena viver ou lutar e isso leva-a a afastar-se de tudo e de todos podendo tentar ou consumar o suicídio, em fases avançadas da doença.

Os sintomas da pessoa com depressão podem passar completamente despercebidos e por vezes pode ser demasiado tarde para intervir.

Para além dos sintomas gerias provocados pela depressão:

• Isolamento;
• Falta de vontade de realizar uma determinada tarefa ou atividade que anteriormente era do nosso interesse:
• Cansaço ou falta de energia;
• Não querer ouvir barulhos ou querer musica ou barulhos em altos berros (pois é uma forma de se alhear e afastar do que se passa à sua volta);
• Abusar de medicamentos, álcool ou drogas. (Costumam ser meios para se afastar e abstrair do que se passa à sua volta);
• Medo de executar determinada tarefa; ou medo do que possa acontecer se falhar. Vive obcecada com a sua incapacidade ou com o que possa acontecer a outrem se ela falhar;
• Vontade de chorar ou chora às escondidas;
• Dores de cabeça, uma grande tensão ou desconforto a nível das costas, ombros ou cabeça ou pode mesmo ter dores ou desconfortos a nível lombar ou cintura.;
• Desleixa-se com o vestir ou com a sua apresentação. Isso deixou de lhe interessar;
• Insónias ou dormir em excesso;
• Ausência de apetite ou ingerir alimentos de forma excessiva e sem controlo.

Na depressão pós-parto alguns sintomas podem incluir:

• Afastamento do bebé, um sintoma de não querer saber dele;
• Incapacidade de tomar conta dele ou de cuidar dele;
• Pânico exagerado acerca do que possa acontecer ao bebé e outros sintoma.

Estes são alguns dos sintomas específicos da depressão pós parto, que podem surgir isoladamente ou associados aos sintomas descritos anteriormente, característicos da depressão.

Relação tríade: Mãe-Pai-Bebé

Os pais têm um papel fundamental na interação com a criança, e consequentemente no desenvolvimento da criança, mas esta interação abrange dois parceiros ativos e mútuos que são os pais e o bebé. O nascimento de um bebé, em especial do primeiro filho, tem um grande impacto, logo, o processo de transição para a parentalidade com as alterações dos papéis familiares e o aumento das responsabilidades implicam muitas vezes momentos de tensão e conflitos familiares.

Com a chegada de um novo membro surge então, uma nova fase no ciclo da família onde vão existir transformações na organização familiar. A organização familiar exige ao casal novos planos e projetos, novas exigências de tarefas e funções para cada um, e por isso uma necessidade de reorganização.

Artigo escrito com a colaboração de Teresa Meneses.