Entrevista com Raquel Caldevilla- Psicóloga e Artista

Maio 29, 2013 No Comments »
Entrevista com Raquel Caldevilla- Psicóloga e Artista


A entrevistada deste mês é alguém que encara a vida profissional com criatividade e originalidade, tendo sempre como base a arte e expressividade.

Psicóloga de formação, artista por paixão, Raquel Caldevilla, alia a arte à terapia, utilizando na sua intervenção as terapias expressivas, tais como a música, dança e teatro.
Este método surgiu na sequência duma pós-graduação em Técnicas e Metodologias Ativas e Expressivas, que concluiu em Lisboa.

Raquel já trabalhou com uma diversidade de público-alvo, desde, crianças, jovens e pais, bem como casais com problemáticas familiares, no entanto, nunca abandonou a criatividade e o gosto pela arte.
Mas foi a situação de desemprego que veio dar uma reviravolta à sua vida, permitindo aprofundar o gosto pela escrita, aproximando-a ainda mais da música, que sempre a acompanhou desde muito jovem.

Atualmente a psicóloga tem um Blog que fez com que tivesse sido reconhecida, abrindo as portas para novos projetos, tais como trabalhar num site de música como jornalista e escritora.
Em simultâneo Raquel tem dado formações na área das Terapias Expressivas, esperando brevemente ser ainda mais auto-suficiente.

“A arte ajuda-nos a aceder a um espaço privilegiado que as terapias procuram: o íntimo das emoções, o nosso ser verdadeiro.”

Como se descreveria numa frase?

Se alguém estivesse a falar de mim, claramente dizia: a Raquel é aquela pessoa que está sempre de sorriso em punho, com um abraço preparado e uma piada na ponta da língua, que se dedica àquilo que a apaixona, com uma voz doce e um interesse vasto por todas as artes, assim como na psicologia.

Qual o principal motivo que a levou a optar pela Psicologia?

Confesso que na altura que escolhi Psicologia foi muito natural. Todas as pessoas que me conheciam diziam que eu tinha “jeito” para as pessoas, especialmente para crianças, e eu acabei por seguir essa área sem pensar muito. É claro que sempre foi uma área que me agradou, mas porque sempre fui uma pessoa muito curiosa e queria saber sempre mais.
Escolhi ir por este caminho das expressões na terapia, pois achava que a psicologia como ciência era demasiado formal para aquilo que acreditava que poderia ser, e também pela saturação da quantidade desmesurada de psicólogos que existiam (e existem!…) no mercado de trabalho. No fundo, queria fazer algo novo e diferente, e acabei a tirar a Pós-graduação em Técnicas e Metodologias Ativas e Expressivas, aliando as minhas duas paixões: a psicologia e a música.

Qual a importância da arte e expressividade nas terapias e como explica a relação entre a psicologia e a arte?

Na altura em que me decidi ir para a área das Terapias Expressivas, achava que a Psicologia era muito estática e não gostava mesmo da relação estagnada que existia no consultório, onde tinha de estar atrás duma mesa, com todos os apetrechos para que o cliente ficasse sentado, a falar dos seus “problemas”. Tanto nos cursos de Teatro, como na Música que ia fazendo, fui-me apercebendo também do carácter catártico que as artes têm, para além de ser algo que mexia com o corpo e as emoções; muitas vezes durante uma música lembramos-nos duma memória passada, ou a dançar conseguimos expulsar tudo o que nos chateia no momento.
A arte ajuda-nos a aceder a um espaço privilegiado que as terapias procuram: o íntimo das emoções, o nosso ser verdadeiro. Duma forma quase automática e visceral, os indivíduos têm a vantagem de chegar facilmente onde o terapeuta quer ir, através de jogos simples e brincadeiras muito reais e sinceras, sem que as palavras tenham de interagir. O facto é que o corpo guarda tudo, como se fosse uma impressão daquilo que nós somos, da bagagem que temos, das pessoas que carregamos connosco.
Depois, a psicologia vem juntar todas estas bases mais artísticas e no âmbito da linguagem não verbal, e torna estas Terapias Expressivas em algo mais concreto e definido para a pessoa em questão, com palavras que a designam, devolvendo-lhes o significado.

Qual o público-alvo com o qual mais se identifica nas suas intervenções?

Comecei a trabalhar com crianças, tanto no contexto da Psicologia mais formal, como nas Terapias Expressivas. Principalmente neste último âmbito das artes, as crianças estão mais em contacto com a maioria dos instrumentos utilizados e, além disso, não estão tão presas às ditas normas sociais que podem deturpar este processo.
Ao longo do tempo, fui-me apercebendo que qualquer pessoa pode beneficiar deste tipo de tratamento ou evolução: se as artes plásticas remetem para algo que pode ser trabalhado mais ao nível das perturbações mentais, a música pode treinar a lógica e a matemática ou ir buscar aspetos mais ligados ao défice intelectual ou físico, a dança recorre ao corpo como meio mais precoce de conhecimento e relação e o teatro reintegra a palavra em assuntos do quotidiano, com exercícios e réplicas daquilo que acontece na realidade.
Duma maneira muito geral e simples, a arte, a música, a dança e o teatro funcionam como elementos primordiais e facilitadores da expressão de afetos, promoção do bem-estar e descarga de tensões, além de muitos outros benefícios para qualquer que seja a idade, estatuto social ou história pessoal.

Apelando ao seu lado mais empreendedor, foi difícil contrariar a situação de desemprego?

Tendo em conta que ainda estou desempregada, é sim, muito difícil de contrariar a situação de desemprego. Confesso que tive uma altura menos boa, em que os amigos fizeram o papel fundamental de me dar “o empurrão” que precisava e criei um blog para me entreter com todos os assuntos dos quais gostava de falar. Depois, uma coisa levou à outra, e hoje em dia faço algo que sempre gostei muito e, além dos workshops na área das Terapias Expressivas, sou também um pouco jornalista e escritora, já em preparação de algo para breve.

Hoje em dia a psicologia está mais afastada do seu percurso profissional. Mas é algo que pretende reencontrar no futuro?
Se há coisa que aprendi com os últimos tempos, é em não fazer planos. Atualmente, estou a fazer algo que nunca pensei, a escrever intensamente, e estou sinceramente muito bem com isso. Se a psicologia surgir novamente, irei recebê-la de braços abertos, como sempre faço a novos projetos que me aliciem.

Que sugestão daria aos jovens que estão um pouco sem rumo, lutando entre a paixão pela música ou outro tipo de carreira distinta?

Não há solução mágica para nada, o que interessa mesmo é experimentar coisas novas e diferentes até encontrar aquilo que os faz feliz. Já fiz um pouco de tudo: servi à mesa, cantei em condições miseráveis e até já dei aulas a crianças bem pequenas. Só depois de alcançar alguma coisa que realmente gostem, é que vão conseguir lutar por ela. Depois, continua a ser injusto e difícil, mas é real para todos…

Sente-se concretizada ou ainda há muito para fazer nos seus projetos profissionais?

Sinto-me concretizada no momento, mas sei que, felizmente, ainda há muito caminho para andar. Cá estaremos para o que existir!

Agradecimentos especiais:
Raquel Caldevilla


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