Violência no namoro: Amor ou Obsessão?

Maio 31, 2011 1 Comment »


Violência no namoro: Amor ou Obsessão?

“O amor é cego, e os namorados nunca vêem as tolices que praticam.”

(William Shakespeare)

Pensar em violência transporta-nos de imediato, ao nível do senso comum para a agressão exercida na sua generalidade por parte do homem sobre a mulher em contexto doméstico ou conjugal. No entanto, esta ideia está distante de se adaptar ao actual conceito e significado de violência e às formas que esta assume.

Partindo do conceito de violência doméstica irei encaminhar o artigo no sentido da violência no namoro, cada vez mais comum na adolescência.

Como ocorre a Violência no namoro e quais as suas principais causas, são algumas das questões que vão ser abordadas com objectivo de esclarecer, informar mas sobretudo prevenir esta problemática que tende a aumentar, assumindo contornos cada vez mais graves.

  • Violência Doméstica: entendida nas sociedades ocidentais e num sentido amplo, como a prática de um ou mais crimes no contexto de uma relação de parentesco, adopção, afinidade ou simplesmente de intimidade
  • Violência no Namoro: é um acto de violência, pontual ou sucessivo, cometido por um dos parceiros numa relação amorosa. Acontece quando um dos parceiros exerce poder e controlo sobre o outro com vista a conseguir o que pretende.

Em Portugal estima-se que uma em cada quatro jovens ou adolescentes é vítima de violência no namoro. Este tipo de violência é considerado um crime público punível por lei e integra-se no quadro legal da violência doméstica.

Como identificar a Violência no Namoro?

A violência no namoro é identificada através de:

  • Maus tratos físicos e psicológicos;
  • Abusos e violências sexuais, intimidações,
  • Humilhações, etc.

Nas fases iniciais a maioria dos jovens que sofrem de violência numa relação de namoro consideram que é uma forma natural do namorado(a) manifestar ou demonstrar o seu amor, acabando por considerar que são comportamentos normais os ciúmes excessivos e as atitudes agressivas de controlo e sentimentos de posse, mesmo não se sentindo bem pensando na maioria das vezes: “ Se tem ciúmes é porque gosta muito de mim”.

Quais as principais causas da violência no namoro?

  • Tendência para exercer violência baseado em crenças e atitudes, por Ex: pensar que a forma mais fácil e rápida para resolver uma situação é ser violento ou agressivo;
  • Vítimas infantis de agressões e violência Ex: Crianças que crescem a observar comportamentos de violência ou agressão nas suas figuras de referência (pais)
  • Ciúmes possessivos, perturbações psicológicas, uso de álcool e drogas, etc.

Diversas Formas de violência:

Por violência não se entende apenas murros e pontapés, isto é violência física, a violência mais comum é a emocional: insultos, humilhações, ameaças, tentativas de controlo.
No namoro as agressões são mútuas e a vítima interpreta esses actos “erradamente” como sendo de ciúme, minimizando o episódio, e acredita que com o casamento, as coisas vão mudar. Mas isso nem sempre é verdade e geralmente, a violência intensifica-se.·
Algumas mulheres acabam por sofrer tanto como as que já estão casadas, diferenciando-se apenas pela inexistência do vínculo do matrimónio e de filhos. Mas a ocorrência da violência no namoro deveria representar “um sinal de alarme” para as mulheres.

Tal como no casamento, também no namoro “o medo da mulher é um aliado do agressor”. O receio de perseguições e retaliações acaba por levá-la a render-se ao domínio do namorado, o que muitas vezes a impede de reagir mais cedo.

Quais as principais consequências da violência no namoro?

Algumas das principais consequências da violência no namoro desencadeiam os seguintes sinais e sintomas:

  • Perda de apetite
  • Nódoas negras no corpo e/ou no rosto
  • Nervosismo
  • Tristeza
  • Ansiedade
  • Sentimentos de culpa
  • Baixa auto-estima
  • Depressão
  • Isolamento
  • Gravidez indesejada
  • Doenças sexualmente transmissíveis
  • Baixo rendimento escolar ou abandono escolar
  • Suicídio (numa fase mais avançada do problema)

Existem diversas entidades que prestam serviços de apoio às vítimas de violência doméstica. Aqui ficam registadas algumas dessas:

  • Linha de Emergência Nacional – Serviço telefónico gratuito, através da linha 144, disponível 24 horas por dia.
  • Linha Telefónica de Informação às Vítimas de Violência Doméstica – Serviço telefónico de informação gratuito, anónimo e confidencial, através do número 800 202 148, disponível 24 horas por dia.
  • CIDM (Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres) disponibiliza um serviço de informação e apoio jurídico de carácter confidencial e gratuito. É necessário fazer marcação prévia nas instalações da CIMD.
  • UMAR (União Mulheres Alternativa e Resposta), uma organização não governamental de mulheres que disponibiliza centros de atendimento, apoio e acolhimento às mulheres vítimas de violência.
  • APAV (Associação Portuguesa de Apoio à Vítima) proporciona apoio jurídico, psicológico e social às vítimas de crime e a seus familiares.

Embora existam alguns casos de violência por parte das raparigas, a maioria é exercida pelos rapazes. Os casos de violência são identificados em todos os casais (independente da opção sexual, raça, religião, faixa etária, etnias ou estratos sociais). É urgente sensibilizar os jovens para esta realidade de forma a prevenir e intervir em situações onde se verifiquem indícios de violência no namoro, pois amor não é obsessão e violência não é amor.



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  1. FB 9 de Maio de 2012 at 23:07 - Reply

    Eu tinha alguns sonhos: conhecer o homem da minha vida, me apaixonar, casar, ter filhos e vivermos felizes para sempre. Mas algo deu errado no meio do caminho. E hoje eu vejo que, de tudo o que aconteceu, posso tirar grandes aprendizados.
    Aos 17 anos de idade eu era uma menina cheia de vida, embora revoltada, coberta de entusiasmo, com sede de dominar o mundo. Eu tinha a vontade, o impulso, mas não tinha a permissão. Hoje, aos 28, tenho a permissão mas não tenho mais o impulso, nem a coragem. Com os anos, a gente perde muita coisa. E, quer saber, isso é muito triste.
    E foi aos 17 anos que perdi uma das coisas mais lindas que um ser humano pode ter: a crença no amor. Comecei a namorar e já senti na pele como é ser trocada, traída, preterida, enganada. Doeu muito e essa dor, uma hora, se foi. O que nunca passou foi a insegurança – companheira fiel, amiga de muitos anos, que eu talvez carregue para todo o sempre se não aprender a trabalhar essa mágoa.
    Desde então, nunca mais fui aquela garota segura de si. Passei a desconfiar de todo e cada homem que entrou na minha vida. Também não consegui mais confiar nas minhas amigas, uma vez que a tal traição deu-se com uma amiga com quem eu andava com uma certa frequência.
    Aos 23 anos, conheci um garoto, com o qual namorei por dois anos e meio e que o considero meu melhor namorado até então. Estraguei tudo e assumo a culpa por não ter dado certo – tudo por causa do meu ciúme e insegurança. Eu morria de medo que ele me traísse como o outro fez comigo. Ele não dava motivos. Mas eu tinha aquilo dentro de mim. O monstro residia aqui dentro e ele não tinha culpa de nada. Então passei a vigiar todos os seus passos, conversas, amizades, a controlar tudo. Eu o sufoquei, o reprimi. Fantasiava coisas que nunca existiram. Uma mente super fértil. Foi então que eu matei o único amor que tinha acontecido para mim. E talvez o único, mesmo, até agora.
    Um ano se passa e conheço um novo cara. Só que desta vez foi o contrário. O que eu fiz para mutilar o amor que tive a oportunidade de ter, agora tive meu amor mutilado por um caso de violência emocional. Eu era cobrada por tudo o que havia feito no meu passado, quando ele nem mesmo me conhecia. Todos os caras que eu já conheci, pessoas com quem me envolvi, por tudo isso tive que prestar contas. E o amor foi adoecendo.
    O amor não combina com cobranças, com ciúmes, com inseguranças, com inquéritos incansáveis, com gritos, com ameaças, com ofensas. A cada dia que passava, uma nova acusação e uma nova prestação de contas. Por muitas vezes eu tive que dar satisfação sobre a mesma coisa, mais de uma vez. E o amor foi morrendo.
    Hoje, refletindo sobre minha própria história, vejo que esse cara teve uma ex-namorada que aprontou muito com ele, o que fez com que ele ficasse exageradamente inseguro, possessivo e ciumento. Eu, bem como aquele meu ex-namorado que sofreu com minhas inseguranças, também não tive culpa de nada e nunca dei motivos. E vivia me justificando, explicando, sempre as mesmas coisas. A paciência foi se esgotando, ele exigia cada vez mais explicações, não aceitava meu passado e chegamos ao ponto em que comecei a ouvir ofensas e ser chamada de nomes. Minha autoestima já estava tão baixa que tornou o namoro insustentável. Até que o amor finalmente morreu.
    Logo no início do namoro, eram só desconfianças – quem falava comigo, quem eu tinha no Orkut, facebook, MSN, o que eu dizia ou fazia. Então ele iniciou uma série de perguntas incessantes sobre os últimos caras com quem tive qualquer envolvimento (por menor que fosse, ele já implicava). Obviamente eu não queria dar todos os detalhes (e nem se deve!) de tudo o que aconteceu, mas ele me forçava a dizer tudo, mediante chantagens emocionais, e caso omitisse algo era como se eu estivesse mentindo. Primeiramente, eu ia omitindo certos pontos da história, mas ele ia perguntando e fuxicando e eu ia tendo que dizer cada vez mais. Era estressante, eu vivia irritada e cansada de prestar depoimentos de coisas das quais não lhe diziam respeito e ele, por outro lado, vivia enfurecido porque eu não queria contar tudo. O namoro resumia-se a uma enorme dor de cabeça desde o início.
    Antes de me conhecer, ele teve uma namorada (de três meses) da qual ele guarda muitas mágoas. Acontece que ele me contou que após terminar com ela, passando-se poucas horas, ela já estava com outro e ele quebrou o carro deste outro, ressarcindo o coitado depois.
    Bom, o meu namoro com meu abuser durou 11 meses. Por que eu o chamo de meu abuser ? Não há como ele ter outro nome – ora, um cara que entra na minha vida e me culpa por absolutamente TUDO o que eu fiz (que, diga-se de passagem, não há nada de extraordinário), ainda se eu tivesse sido uma prostituta, ou tivesse tido pelo menos 10 parceiros, mas não. E ainda usa coisas da cabeça dele pra acabar com minha autoestima. Aí eu, apaixonada que estava, acreditava nele, ouvia todos os seus sermões e ficava me sentindo como lixo.
    Mas, prosseguindo às atrocidades, tenho mais a dizer. Outra das coisas que ele me fazia é colocar em mim a culpa por todas as coisas que aconteciam de errado com ele, ou seja, se ele não estava estudando a culpa era minha por tomar todo o tempo dele. Ou se algo deu errado no trabalho dele também tinha a ver comigo. Vê se pode – só faltava me culpar também porque chovia.
    Lembro-me de um certo dia em que ele abriu chat comigo no MSN e começou a listar mil coisas justificando que nós não combinávamos. Acontece que, no dia anterior, ele havia dito que nunca tinha conhecido alguém que combinasse tanto com ele. Bipolar?
    Outro fator totalmente irritante era que a única pessoa que dava o braço a torcer era eu. Há que se lembrar que, num relacionamento, quando há escolhas a fazer, tem que se pesar e entrar em consenso. Mas não, com ele não havia democracia – o filme, o restaurante, os horários para a gente se ver, tudo tinha que ser como ele queria. Fora o resto… Houve um dia que ele ía me buscar do trabalho para almoçarmos juntos e já havíamos decidido o restaurante mas, quando ele realmente chegou para me pegar dirigiu para o lado contrário ao do restaurante, quando eu o indaguei e ele disse que íamos no outro. Seria machismo ou autoritarismo?
    Eu também raramente podia expressar minha opinião a respeito de alguma coisa. E ai de mim se fosse muito contrária à dele.
    Outro grande problema que eu enfrentava com meu abuser, era o de não poder ter vida social. Se, por um lado, ele não tinha amigos e não saía comigo para lugar algum, eu também não podia. Só que ele mascarava isso – falava para eu sair, mas ligava de 5 em 5 minutos e ficava me alugando ao telefone. Nem em eventos da minha família ele ia. Houve uma festa de fim de ano do meu trabalho que ele disse que não ia. Mas apareceu lá de surpresa só na hora que iam servir a janta e, tão logo terminamos de jantar, quis ir embora. Ou seja, não quis ir, foi, e não deixou eu aproveitar.
    Meu querido ex-abuser também quis muito que eu emagrecesse, me fornecendo um termogênico proibido no Brasil, que poderia até ter me matado.
    Por falar em matar, lembrei-me de quando fomos a um parque aquático e no Beto Carrero – ele insistiu e me fez sentir super mal porque eu não quis ir nos brinquedos mais emocionantes nem descer nos tobogãs do parque aquático mais altos. Disse que eu era “frouxa”. Para mim, isso é bullying.
    A grande característica do meu abuser era chantagista – me enchia de presentes para depois me controlar, subestimar, colocar defeitos, insultar e jogar na cara que me dava coisas e fazia “de tudo” por mim. Fazia de tudo para me destruir, isso sim!
    No fim das contas, percebi que aquilo não era amor e nunca foi. E que ele só me detonava e colocava pra baixo para se sentir superior, já que se sente inferior a qualquer ser neste mundo. Ninguém foi, é ou será bom o bastante para ele. Ele dispensava as namoradas pelos motivos mais banais, o que reforça sua insegurança.
    Tudo acabou quando eu passei a não admitir mais as grosserias e nomes de baixo calão pelos quais ele se referia a mim.
    A partir do momento que acaba o respeito, não há mais o que se falar em amor. O amor não sobrevive à falta de respeito. E as pessoas me alertavam que, se hoje ele me ofende com palavras, amanhã ele me bate. E foi aí que meu amor próprio nasceu.
    Passei a cuidar cada dia mais de mim – usei toda aquela minha dor e comecei a estudar feito louca. Direcionei minha energia para algo melhor, alguma coisa que me aprimorasse como pessoa. Fiz cursos para concurso, outro para aprender a meditar e atualmente estou correndo e malhando na academia.
    Ando dedicando boa parte do meu dia a minha espiritualidade – praticando o pensamento positivo, preces e leituras. Tem ajudado bastante.
    Acontece que não posso negar o fato de que ainda não estou 100% bem. Claro que ainda há muito o que ser trabalhado. Porém já posso anunciar boas melhoras desde então.
    Foram 6 longos meses de inverno de muita depressão – chorava durante o dia quando eu menos esperava, não tinha vontade de sair, fazia terapia uma vez por semana, evitava certos lugares, não tinha amigos porque ele havia me privado de ter vida social, etc.
    Hoje, claro, está tudo diferente. Saí dessa muito mais madura, tenho certeza, mas sei o quanto dói passar pelas garras de um abuser. Eles tiveram e ainda têm seus problemas, só que em vez de resolvê-los, abusam de garotas que nenhuma culpa têm. Dizem os sites que eles pegam garotas submissas para controlar, mas não concordo com isso – sou uma garota muito independente e bem resolvida e caí na armadilha. É que no início a gente não sente, não nota, não percebe nada. Só depois de estarmos completamente envolvidas emocionalmente é que eles tiram suas máscaras. E há que diga que não há cura. Li livros como “Homens que odeiam suas mulheres e mulheres que os amam”, de Susan Forward, o que me ajudou muito, principalmente a descobrir que eles voltam, SIIIM, eles voltam e na segunda vez é tudo bem mais rápido. Quer dizer, eles voltam com novas intenções, acontece tudo como da primeira vez, mas de uma forma bem mais prática. E saem da sua vida insultando e desmerecendo você, como o fizeram antes.
    Acredito que tudo o que acontece conosco tem um propósito que vai contribuir para a nossa evolução. E posso, com toda a certeza, dizer que, o que tiro de lição de tudo isso, porque sofri – e muito – é que devo superar minhas dores do passado e seguir em frente mais confiante de mim mesma. Deixar de lado toda essa insegurança e o ciúme. Creio que, talvez apareceram pessoas “erradas” na minha vida para que eu aprendesse com elas de forma que, quando aparecer a pessoa “certa” eu possa finalmente saber exatamente como agir e fazer com que aconteça tudo bem. Eu chamo isso de evolução.
    Pouco adianta passar a vida chorando pitangas por uma coisa ruim que aconteceu conosco e nada fazer para mudar. O bom mesmo é abrir os olhos, pegar os limões com os quais a vida azedou nossa história e fazer uma boa limonada! Talvez, se eu não tivesse conhecido meu emotional abuser, jamais saberia o quão abusiva fui com aquele meu namorado que sufoquei até que ele não aguentou mais minhas inseguranças. Agora eu sei como o ciúmes e o controle podem destruir toda uma linda história de amor.

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