Entrevista com Pedro Moreira- Psicólogo e autor do livro : “Daqui Dali”

Abril 16, 2013 1 Comment »
Entrevista com Pedro Moreira- Psicólogo e autor do livro : “Daqui Dali”


Numa época em que o risco e aventura são conceitos cada vez mais utilizados pelos portugueses, assim como frases tais como: Correr atrás dos sonhos, viajar rumo ao desconhecido… O Psicologia4U, vai entrevistar um psicólogo que saiu da sua zona de conforto, para ir em busca de algo com o qual sempre se identificou.

Coragem, ousadia, determinação, convicção, entre outras, são algumas das palavras que caracterizam António Pedro Moreira de 29 anos, natural de Vale de Cambra, distrito de Aveiro, que tem como formação base, a área da Psicologia, concluindo o mestrado integrado em psicologia clínica, na área da psicodinâmica.

“… Quem quer fazer isto ou aquilo, seja viajar ou memorizar o alfabeto grego, tem-se, geralmente, apenas a si como obstáculo…”

Trabalhou, ao longo de dois anos como psicoterapeuta, numa comunidade terapêutica para toxicodependentes em Birmingham- Inglaterra. No entanto, em 2010 teve a ousadia de abdicar do cargo que ocupava, para seguir um sonho, com o qual sempre se identificou: Viajar.

Mas estas viagens caracterizam-se por serem no mínimo originais: um psicólogo à boleia que viajou cerca de 50 mil km por terra, num total de 314 viagens à boleia, tendo atravessado cerca de 50 países.

De Portugal a Singapura, esteve detido na Croácia, passou na Síria antes da revolução, estando ainda a dois quilómetros de Bin Laden cerca de 12 horas antes de este ter sido assassinado pelas forças norte americanas.
Pedro Moreira considera que as cerca de 400 viagens que fez à boleia nunca constituíram perigo para si, sendo que a sua principal preocupação, era chegar bem ao seu destino.
Foram aproximadamente 50 os países visitados, entre os quais: Espanha, Ucrânia, Polónia, Líbia, Síria, Irão, Tailândia, Paquistão e Nepal que o psicólogo conheceu enquanto andava a viajar à boleia.

A fim de dar azo à sua paixão pela escrita e depois de ter publicado dois livros entre 2007 e 2009, Pedro Moreira, decidiu passar para o papel e partilhar todas as experiências enriquecedoras, que estas viagens lhe proporcionaram.
“Daqui Ali”, é o livro que escreveu e com o qual o psicólogo está a correr o país, divulgando e apresentando, este que será o manual de quem quer viajar sem sair do seu lugar.

Podes começar por falar um pouco de ti, como te descreves?

-Hum… Há sempre aquilo que somos e aquilo em que gostamos de acreditar que somos, por mais longe, ou perto, que esteja essa percepção da realidade. Gosto de acreditar que sou alguém muito introspectivo… não que isso me leve a mergulhar em mim de uma forma prejudicial às minhas capacidades sociais… simplesmente acho que sou alguém que se fascina com frequência e facilmente com os mistérios das cenas que regem as nossas decisões, destinos e feitios… Questiono-me muito (talvez mais do que devia, por vezes) acerca das razões para andarmos aqui… não encontrando respostas para estas questões acabo por tentar gerir a minha VIDA tomando como premissa a falta de respostas que obtenho para todo este existencialismo… e apercebo-me que a efemeridade da VIDA tem de ser respeitada, e esse respeito pode apenas advir de procurarmos a felicidade sem reservas… Iá, agora, neste momento, é assim que me descrevo – alguém assolado por esta ou aquela questão…

O que te levou a optar pela licenciatura em Psicologia?

-Decidi ser psicólogo no nono ano. Na altura sentia que o pessoal gostava de desabafar comigo e dizia que eu sabia ouvir e essas cenas que os putos dizem uns aos outros. Na minha percepção redutora de puto de quinze anos acerca do que era a psicologia, decidi ser psicólogo por isso… Claro que fui maturando a ideia à medida que fui aprendendo mais acerca do que realmente é a psicologia mas… sinceramente, a génese da ideia foi tão simples quanto essa.

“ Apercebi-me da diferença de ver algo ao longe ou senti-lo de perto”– esta foi uma frase que referiste, num vídeo que publicaste para uma candidatura a líder de viagens.
É esta ideia que te move, e te leva a querer viajar cada vez mais?

-É uma das ideias… e se me metesses aqui mais quinze frases que possa ter dito ao longo dos tempos, estou certo que cada uma delas representaria uma razão para viajar e querer conhecer. Não me agrada muito a preguiça de me limitar às tecnologias para aprender acerca do que há para além do meu quintal… curto mesmo dar o salto e estar em sítios tão diferentes do meu como uma castanha de um guaxinim.

O facto de seres psicólogo, ajudou ou influenciou nesta tua opção de vida?

Directamente devido a ser psicólogo, acho que não… Se tiver de relacionar isso com a psicologia, posso relacionar porque o facto de ter seguido esta carreira fez com que tivesse conhecido, ao longo do meu percurso, pessoas que acabaram por influenciar aqui e ali, e que acabaram por ter algum contributo para a minha decisão. Também é certo que se possa advogar que a minha curiosidade em relação a fenómenos mentais, por exemplo, se possa extrapolar para fenómenos societais… são conjeturas, claro, mas não necessariamente erradas.

O que te levou a abdicar do teu trabalho numa comunidade terapêutica em Inglaterra em busca de um sonho?

-A palavra final da pergunta. O sonho. Como referi anteriormente, acho que é importantíssimo deixarmo-nos de cenas e perseguirmos a felicidade. Eu tinha um trabalho estável, num sítio excelente e sentia-me preenchido de várias maneiras com isso. Mas sabia perfeitamente que precisava de mais. E por isso tive de partir. Sabia que era um risco, mas na altura pareceu-me um risco infinitamente superior o risco de abdicar de um sonho. Mas acabou por correr tudo bem em todos os domínios… despedi-me, saí bem, fui, voltei… e agora continuo a trabalhar na mesma comunidade terapêutica, em Birmingham, fazendo uma semana por mês, e estando o resto do tempo em Portugal.

Fala-nos um pouco do teu livro: “Daqui Ali” em traços gerais.

-O meu livro retrata uma viagem que fiz de nove meses e meio em que gastei a módica quantia de 3300 euros, com tudo incluído. A minha ideia era ir de Portugal a Singapura por terra… mas acabei por ir de Portugal ao Nepal por terra, depois apanhei avião daí para a Tailândia e deste país desci a Singapura e regressei à nação, sempre sem voar. Foram cinquenta mil quilómetros por terra, vinte mil à boleia. Estive preso no Laos, estive a dois quilómetros do Bin Laden, estive uma semana do Deserto de Góbi, atravessei o Irão em dez dias com apenas vinte euros, estive uma semana no Iraque sem gastar um cêntimo, estive na Síria antes da revolução… enfim, é um livro cheio de VIDA, análise de diferentes culturas e reflexão.

Atualmente os teus projetos passam pela área da Psicologia?

-Não fechei a porta à psicologia, até que porque estou de momento a exercer… é certo que adorava viver através da viagem e da escrita. Contudo, estou aberto a novos projectos e há determinadas propostas que não negaria.

Que conselhos darias a outras pessoas que tenham o mesmo objetivo de vida que tu, mas que ainda não ganharam coragem para o fazer?

-Muitas vezes digo que não acredito em falta de coragem mas em falta de querer… Quem quer fazer isto ou aquilo, seja viajar ou memorizar o alfabeto grego, tem-se, geralmente, apenas a si como obstáculo… É muito mais fácil seguir os nossos sonhos do que pensamos. Mas equacionamos um monte de cenas geralmente, porque apercebemos-nos, se calhar, que aquilo que queremos fazer não é aquilo que é suposto ser feito… Deixamos que esta ideia cultural acerca do que devemos fazer tome conta de nós… Ter uma carreira, casar, ter filhos, poupar… tudo um monte de cenas que nos são entregues numa bíblia invisível que nos é dada ao nascer e que, sem querer, quando damos por ela, estamos a seguir como um burro a uma cenoura.

A vida é arriscada ou tu fazes dela um risco?

-O maior risco da VIDA é deixá-la passar por nós.

Agradecimentos especiais:
Pedro Moreira


Comentários

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One Comment

  1. Teresa Meneses 18 de Abril de 2013 at 22:10 - Reply

    Muito boa!
    Gostei muito.
    Nada melhor do que ir atrás dos nossos sonhos :)

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