Breve Reflexão sobre o Luto

Março 29, 2011 1 Comment »


Breve Reflexão sobre o Luto e a Morte

“Não me importo de morrer, mas preferiria não estar por perto quando acontecesse.”
Woody Allen – Actor e cineasta americano

Vivenciada e percepcionada de várias formas e manifestada de diversas maneiras, dependendo das várias culturas, crenças ou valores, a morte é caracterizada por sentimentos comuns como é o exemplo da dor e da angústia. É também encarada na maioria das vezes como um tema a evitar apesar de caminharmos lado a lado com ela.

Apesar da tristeza associada a este tema decidi enfrentá-lo e explorar as suas fases na tentativa de ajudar a gerir de forma menos penosa os sentimentos relacionados com o impacto que a morte provoca nos familiares, amigos ou pessoas próximas de quem deixa a vida rumo a algo desconhecido.

Talvez seja o desconhecimento do que poderá suceder após a vida ou do que acontece quando se morre, que povoa a mente humana de receio, e transforma o conceito de Morte em algo verdadeiramente assustador, fazendo com que seja substituída por algumas pessoas pela palavra luto.

Fases do Processo de luto

O processo de luto não é algo linear, muito pelo contrário, envolve uma série de etapas ou componentes sequenciais, que lhe estão inerentes.

As 7 fases que compõem o processo de luto são:

  1. Choque – Reacção inicial à perda do objecto (pessoa ou coisa significativa), na qual o sujeito fica desorientado com o acontecido. Nesta fase prevalece o sentimento de que o mundo desabou e que nada mais faz sentido é também associada a sentimentos de revolta e raiva;
  2. Negação – Mecanismo de defesa que a própria pessoa utiliza de forma inconsciente e que a leva a não acreditar ou a não querer acreditar no que aconteceu. Geralmente a pessoa usa expressões como por exemplo:  “Eu não acredito que isto me tenha acontecido”, “não pode ser possível”.
  3. Depressão – Etapa em que a pessoa já teve alguma tomada de consciência do que sucedeu e por esse motivo, sente-se frequentemente triste, chora compulsivamente, deixa de sentir prazer nas actividades, pensa recorrentemente acerca da morte e no ente falecido, isola-se. Estes sintomas se forem muito intensos e persistirem no tempo, podem ser sinal de uma perturbação de humor.
  4. Culpa – É um sentimento muito comum. As pessoas começam a pensar em tudo o que poderiam ter dito ou feito para impedir essa morte. Por outro lado, a culpa também como surgir em consequência do alívio pela morte de alguém que nos era muito querido mas que estava a sofrer. Por exemplo, morte de uma pessoa com uma doença terminal que estava num estado de sofrimento intenso.
  5. Ansiedade – Está associada a um período de agitação e ânsia pelo que foi perdido. A pessoa deseja frequentemente encontrar a pessoa falecida, mesmo sabendo que é impossível e pelo que, não consegue relaxar.
  6. Agressividade – Em alguns casos, o indivíduo revolta-se contra a perda, isto é, sente-se muito zangado e irritado por estar a viver aquela situação. Este sentimento pode ser virado para si mesmo ou para os outros (por exemplo, para os médicos que não conseguiram salvar a pessoa amada, para Deus ou para amigos ou outras pessoas significativas)
  7. Reintegração – Normalmente esta é a última etapa do processo, na qual a pessoa volta à “vida normal”.  É também denominada a fase da aceitação, onde apesar de todo o sofrimento associado á perda sentida, o ser humano, com a ajuda do tempo acaba por se resignar à situação, apesar da marca que este acontecimento acaba por deixar para o resto da vida.

Todas estas fases são sequenciais, mas isto não implica que a sequência seja linear como atrás foi descrita. Este processo irá variar de pessoa para pessoa, de acordo com as características e vicissitudes de cada um de nós. Sendo que, nem todos identificam a passagem pelas sete fases do processo, pelo que alguns apenas expressam algumas daquelas.

Muitas vezes, aquelas etapas de luto ou perda são acompanhadas por condutas de evitamento, manifestadas pela tendência da parte da pessoa em luto para se isolar e evitar as outras pessoas ou situações, facto que se pode prolongar, e no futuro originar problemas, pois o luto pode passar de um processo normal, resultante de uma perda, para um luto patológico, que já é mais prolongado no tempo e que consequências negativas para o bem-estar da pessoa.

A negação social da morte e do sofrimento apresenta graves repercussões sobre as pessoas e sobre as comunidades em situação de perda. As pessoas desconhecem a importância de “fazer os seus lutos” e ainda mais como devem fazê-los.

Quando uma pessoa consegue passar pelas diferentes fases do luto, retoma uma vida normal, estando todavia profundamente transformada. Apesar do significado da perda  nos arrastar para um abismo desesperante e aparentemente inultrapassável , existe o factor tempo que é determinante para a aceitação de uma nova condição de vida e ajuda a percorrer-la mesmo sentindo a ausência de quem nos deixou.

Apesar de pertencer à lista dos poucos “sortudos” que por enquanto, não sentiram de perto a dor de perder alguém significativo nesta vida, pretendo de certa forma demonstrar-me solidária com todos aqueles que ao ler esta pequena reflexão se identifiquem com este tema.


Comentários

Comentários

One Comment

  1. Guilherme Monteagudo 23 de Março de 2012 at 14:59 - Reply

    Muito boa a “teoria” sobre as fases do luto.
    Perdi meu pai há mais de um ano e realmente aconteceu tudo o que está descrito aí em cima comigo. Comigo aconteceu exatamente nesta ordem também.

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