As Sombras da Esquizofrenia

Janeiro 5, 2012 1 Comment »
As Sombras da Esquizofrenia


O que significa o termo Esquizofrenia?

Este termo foi criado em 1911 por um psiquiatra suíço (Eugem Bleuler), cujo significado é: MENTE DIVIDIDA.

É uma doença de foro mental que se caracteriza por uma desorganização ampla dos processos mentais e que afecta a zona central do “eu” alterando toda a estrutura vivencial. É de referir que a esquizofrenia faz parte do quadro clínico das psicoses.

Culturalmente, o esquizofrénico representa o estereótipo do “louco”, o sujeito que produz grande estranheza social, devido ao seu desprezo para com a realidade conhecida.

As pessoas com esquizofrenia perdem o sentido da realidade ficando incapazes de distinguir a experiência real da imaginária, podem ter diálogos que não fazem sentido, ficarem sentadas por horas sem se moverem, ou falam muito pouco, ou podem parecer perfeitamente bem até transmitirem o que realmente estão a pensar.

É uma doença do cérebro com manifestações psíquicas, que começa no final da adolescência ou início da idade adulta antes dos 40 anos. O desenvolvimento desta doença é sempre crónico com tendência à deterioração da personalidade do indivíduo.

Como reconhecer a esquizofrenia ainda no começo?

O reconhecimento precoce da esquizofrenia é uma tarefa difícil porque nenhuma das alterações é exclusiva da esquizofrenia incipiente; essas alterações são comuns a outras patologias, e da mesma forma a comportamentos socialmente desviantes mas psicologicamente normais. Diagnosticar precocemente uma insuficiência cardíaca pode salvar uma vida, já no caso da esquizofrenia a única vantagem do diagnóstico precoce é poder começar logo um tratamento, o que por si não implica em recuperação. O diagnóstico precoce é melhor do que o diagnóstico tardio, pois tardiamente muito sofrimento já foi imposto ao paciente e à sua família, coisa que talvez o tratamento precoce evite. O diagnóstico é tarefa exclusiva do psiquiatra, mas se os pais não desconfiam de que uma consulta com este especialista é necessária nada poderá ser feito até que a situação piore e a busca do profissional seja irremediável. Qualquer pessoa está sujeita a vir a ter esquizofrenia; a maioria dos casos não apresenta nenhuma história de parentes com a doença na família. De seguida estão enumeradas algumas dicas: como foi referido, nenhuma delas são características mas servem de parâmetro para observação.

  • Dificuldade para dormir, alternância do dia pela noite, deambulando pela casa durante a noite, ou mais raramente dormir demais;
  • Isolamento social, indiferença em relação aos sentimentos dos outros;
  • Perda das relações sociais que anteriormente mantinha;
  • Períodos de hiperatividade e contrastando com períodos de inactividade;
  • Dificuldade de concentração chegando a impedir o prosseguimento nos estudos;
  • Dificuldade em tomar decisões e de resolver problemas aparentemente simples;
  • Preocupações não habituais com ocultismos, esoterismo e religião;
  • Hostilidade, desconfiança e medos injustificáveis;
  • Reacções exageradas às reprovações dos parentes e amigos;
  • Deterioração da higiene pessoal;
  • Viagens ou desejo de viajar para lugares sem nenhuma ligação com a situação pessoal e sem propósitos específicos;
  • Envolvimento com escrita excessiva ou desenhos infantis sem um objetivo definido;
  • Reacções emocionais não habituais ou características do indivíduo;
  • Falta de expressões faciais (Rosto inexpressivo);
  • Diminuição marcante do piscar de olhos ou piscar incessantemente
  • Sensibilidade excessiva a barulhos e luzes;
  • Alteração da sensação do tacto e do paladar;
  • Uso estranho ou desadequado das palavras e da construção frásica;
  • Afirmações irracionais;
  • Comportamento estranho como recusa em tocar as pessoas, penteados esquisitos, ameaças de auto-mutilação e ferimentos provocados em si mesmo
  • Mudanças na personalidade;
  • Abandono das atividades usuais;
  • Incapacidade de expressar prazer, de chorar ou chorar demais injustificadamente, risos sem motivo;
  • Abuso de álcool ou drogas;
  • Recusa em tocar em outras pessoas

Nenhum desses sinais por si comprovam doença mental, mas podem indicá-la. Pela faixa etária esses sinais podem sugerir envolvimento com drogas, personalidade patológica ou revolta típica da idade. É importante diferenciar a esquizofrenia do envolvimento com drogas pode ser feito pela observação da preocupação constante com dinheiro, no caso de envolvimento com drogas, coisa rara na esquizofrenia. A personalidade patológica não apresenta mudanças no comportamento, é sempre desviante, desde as tenras idades. Na esquizofrenia incipiente ainda que lentamente, ocorre uma mudança no curso do comportamento da pessoa, na personalidade patológica não. Na revolta típica da adolescência sempre haverá um motivo razoável que justifique o comportamento, principalmente se os pais tiverem muitos conflitos entre si.

Tipos de Esquizofrenia

Os vários tipos de esquizofrenia designam-se:

Esquizofrenia simples:

  • Existência de transtornos quase imperceptíveis e sem carácter definitivo;
  • Falta de interesse generalizado, atitude indiferente e predisposição para a indiferença afectiva e até para a delinquência.

Esquizofrenia hebrefénica:

  • Há alterações do pensamento;
  • As ideias delirantes não estão organizadas;
  • O contacto com a realidade é pobre:
  • Ocorrência de irritabilidade e comportamentos agressivos.

Esquizofrenia paranóide:

  • Alucinações auditivo-verbais e enganos;
  • Desconfiança, isolamento, agressividade ocasional.

É o tipo mais comum e de tratamento com melhor prognóstico, sobretudo em relação ao funcionamento ocupacional e à capacidade para a vida independente.

Esquizofrenia catatónica:

  • Predomínio de sintomas motores e alteração da actividade.

Sintomas:

Percepções distorcidas da realidade;

Alucinações;

Delírios;

Discurso desorganizado;

Expressão emocional.

O tratamento

O tratamento mais comum desta psicopatologia visa duas abordagens:

Medicamentosa: antipsicóticos ou neurolépticos são o tratamento de preferência para esta patologia porque diminuem os sintomas (alucinações e delírios), e restabelecem o contacto do doente com a realidade.

Psicossocial: as abordagens psicossociais, acompanhamento psicoterapêutico, terapia ocupacional e familiar são necessários para reintegrar o paciente na família e na sociedade, diminuição das recaídas e promover o ajustamento social dos portadores da doença.

O Papel dos Profissionais com Pessoas Esquizofrénicas

DEVEM:

  • Ser eficazes ao colocar as suas intervenções para não confrontar ou desautorizar as pessoas esquizofrénicas (tentar ir ao encontro das opiniões destes, sem os contrariar ou contradizer);
  • Monitorizar o ambiente do grupo;
  • Ser activos;
  • Harmonizarem a expressão dos afectos para controlar o nível de ansiedade;
  • Estimularem a participação;
  • Perguntarem às pessoas esquizofrénicas a sua opinião;
  • Organizarem a conversa;
  • Criarem um clima de compreensão, respeito e empatia, favorecendo assim a coesão;
  • Usarem uma linguagem concreta simples, e perceptível, aproximando-se ao máximo do universo linguístico destes pacientes;

O que deve a família fazer para garantir a tranquilidade futura do portador de esquizofrenia no que se refere aos seus direitos sociais: pensão, habitação, assistência médica, medicamentos?
As alternativas de actuação familiar, nesses casos, são diversas e dependem da situação específica de cada família, não apenas no que se refere à variável socioeconómica, mas de igual forma ao acolhimento oferecido ao paciente pelos restantes elementos da família, quando existem casos em que apenas alguns membros da família assumem os cuidados necessários.

Em casos crónicos, nos quais o portador não tenha mais condições de trabalhar, é importante que a família reúna condições para a garantir os direitos sociais do paciente, que podem passar pela pensão de invalidez. Condições de habitação, assistência médica e de defesa de seus direitos devem ser igualmente tidas em consideração, pois como qualquer outra pessoa, os portadores de esquizofrenia têm direito à plena cidadania.

A família deve ter em conta:

Tanto o paciente como a família têm de ser orientados para que, aos primeiros sinais de recaída, entrem em contacto com o médico.
Em determinados momentos do surto agudo ou da crise, a internamento pode ser útil ou até indispensável. Em geral, são suficientes de 20 a 40 dias de hospitalização para o controlo dos sintomas da expressiva maioria dos pacientes em surto agudo de esquizofrenia. O internamento deve ser encarado como uma alternativa de tratamento, necessária e muitas vezes indispensável, mas nunca como uma punição ao comportamento bizarro do paciente.
Apesar de a doença ser crónica e grave, ela é perfeitamente controlável na imensa maioria dos casos. O tratamento psicossocial visa à reabilitação do indivíduo, a recuperação das habilidades perdidas e sua capacitação para as atividades quotidianas (reintegração social).
Com o tratamento tradicional ou, quando este for insuficiente, a medicação de antipsicóticos, não há razão para pensamentos pessimistas ou atitudes de desesperança. A doença existe e é real, mas com um tratamento adequado e bem orientado o portador de esquizofrenia pode ter uma vida normal ou muito próxima da normalidade.

Este artigo foi escrito com a colaboração de Teresa Meneses


Comentários

Comentários

One Comment

  1. Teresa Meneses 15 de Janeiro de 2012 at 0:54 - Reply

    Sim senhora :)
    Aqui encontra-se um artigo bem elaborado sobre esta patologia.
    Desconhecia algumas dicas enumeradas no ponto das características da esquizofrenia ainda no início… agora sim, já estou mais informada :)

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