A Solidão – Numa perspectiva Psicológica e Social

Fevereiro 18, 2011 6 Comments »


A Solidão – Numa perspectiva Psicológica e Social

Talvez esteja esquecida, ignorada, menosprezada ou quem sabe adormecida na consciência das pessoas, no entanto, através da comunicação social que recentemente divulgou notícias de idosos encontrados mortos em suas casas, após vários anos deste acontecimento, a sociedade, de certa forma acabou por despertar para este flagelo que tende aumentar se nada se fizer para a travar.

A Solidão:

… “É o estado de quem se acha ou se sente desacompanhado ou só…

A abordagem a este tema surge como sequência do anterior, uma vez, que a solidão é uma das possíveis causas da Depressão. A sociedade actual apesar de ter conhecimento da existência desta problemática, ainda não utiliza as estratégias e os recursos mais adequados para a combater.

A Solidão atinge várias faixas etárias, no entanto, é na classe idosa que esta é mais visível e notória. Abandonados pelas famílias ou entregues a si próprios, os lares, centros de dia, famílias de acolhimento ou outras instituições são as principais respostas existentes para atenuar o isolamento em que muitos idosos se encontram.

Existem estudos que confirmam que a partir dos 65 anos de idade, quase 40% desta população passa mais de 8 horas por dia sem companhia, em alguns casos sem ninguém que cuide sobretudo em situações de dependência ou falta de autonomia. É de referir que em situações como estas, a solidão chega a ser assustadora. Nestas condições facilmente se verificam estados emocionais caracterizados por uma tristeza profunda e sinas de depressão.

A Solidão atinge mais as mulheres:

Se a Solidão for considerada em termos de género sexual, existe uma maior incidência no sexo feminino, devido ao aumento da esperança média de vida nas mulheres.

No entanto, apesar de estas sofrerem de doenças físicas ou limitações próprias da idade em que se encontram, em alguns casos são mais capazes e autónomas face aos homens, no que diz respeito a competências básicas relacionadas com higiene e alimentação.

Apesar da prevalência deste estado emocional ser maior nos idosos é visível a presença da solidão nas diversas fases da vida do ser humano.

Mas afinal quais as principais situações que conduzem as pessoas à solidão?

De acordo com as diferentes fases de vida pode depender ou ser consequência de vários factores ou por outro lado pode ser sintoma de um determinado problema psicológico ou social

Nas crianças e adolescentes:

  • O isolamento geográfico pode ser uma das possíveis causas nas crianças que residem em aldeias pouco povoadas, pois apesar de frequentarem a escola, não têm contacto suficiente com outras da mesma idade com quem se identifiquem;
  • O divórcio dos pais pode desencadear uma forma de solidão encarada como dolorosa e com consequências graves no desenvolvimento da personalidade, nesta fase crucial do percurso de vida do ser humano.

Na fase adulta:

  • A perda de alguém importante ou a ruptura de uma relação poderá estar na base da solidão e ser consequência de um estado de depressão pelo facto de se sentirem sozinhos, mesmo na presença de outras pessoas;
  • A solidão pode ainda surgir no decorrer de uma relação quando o sentimento não é correspondido pelo outro elemento do casal, ou ser consequência de um relacionamento que apresenta dificuldades na comunicação;
  • De forma antagónica ao que foi referido na fase anterior, na idade adulta, a vida em cidades muito populosas, com um estilo de vida muito agitado, potencia a solidão. Existem relatos de pessoas que se sentem sós. Neste sentido a expressão: “ Sozinho no meio da multidão”, enquadra-se nesta situação. Em alguns casos por se sentirem deslocadas ou por não se identificarem com os valores ou regras estabelecidos numa determinada cultura.

Na terceira Idade:

  • O aparecimento de doenças degenerativas, ex: Alzheimer, Parkinson entre outras, associadas à morte de um elemento do casal, assim como o abandono de familiares ou pessoas próximas que não se sentem preparados, não tem condições ou simplesmente recusam cuidar do idoso, que padece da doença, pode constituir uma das causas da solidão nesta fase.

Contudo é importante ter em consideração que em determinados casos, é por vontade própria, ou por se resignarem a esta condição de vida, que alguns idosos rejeitam o apoio social e psicológico, não permitindo a ajuda de centros de dia, a integração em lares ou outras entidades e instituições que poderiam assegurar a higiene, alimentação e outros aspectos básicos, proporcionando uma melhoria na qualidade de vida;

Outro dos aspectos relevantes é o número reduzido de vagas que é desproporcional ao número elevado de idosos que fazem parte de infindáveis listas de espera, aguardando pela sua entrada em lares de idosos ou centros de dia, onde poderão estar ocupados e na presença de profissionais que contribuem para diminuir ou atenuar o estado de solidão muitas vezes sentida por estes.

Algumas Formas de Lidar ou superar a Solidão:

  • Aprender a gerir as mudanças de diferentes estilos de vida;
  • Consultas de psicoterapia, que são encaradas como sendo um método bem sucedido de tratar a Solidão:
  • Compreender a causa da solidão e tratar pensamentos distorcidos associados a sentimentos e atitudes negativas causadoras deste estado;
  • A Terapia de grupo é considerada por alguns especialistas como uma forma eficaz de tratamento de pessoas que identificam os mesmos sintomas e partilham os mesmos sentimentos.

Acima de todos estes aspectos inerentes aos sintomas, causas e tratamento da SOLIDÃO cabe a cada um de nós evitar e lutar contra este estado emocional que afecta e perturba uma grande parte da população.

Urge prevenir situações de idosos abandonados que sobrevivem sem o mínimo de condições, acabando por falecer, tendo como única companhia a SOLIDÃO.


Comentários

Comentários

6 Comments

  1. Andreia Correia 18 de Fevereiro de 2011 at 14:29 - Reply

    Olá Célia parabéns pelo teu site, está muito bem elaborado e remete para assuntos significativos da nossa vida quotidiana, que de facto todos eles dão que pensar, e se refletirmos um pouco podemos dizer: ” Caramba, afinal vale a pena pensar nisto”!

    Apontando para este ultimo post: a Solidão, acho bastante interessante no sentido em que por este mundo fora e também bem perto de nós, existem centenas de idosos sem qualquer tipo de acompanhameto por parte de serviços sociais ou pela familia. que futuro para esta gente que labotou tanto na vida e acabam o resto dos seus dias sozinhos sem nenhum tipo de apoio?

    Um apelo a todas as familias: Cuidem dos seus idosos porque mais tarde também nós vamos precisar de quem cuide de nós!

    Bjs Célia

    • Célia Félix 19 de Fevereiro de 2011 at 12:04 - Reply

      Muito Obrigada Andreia

      Espero corresponder sempre às expectativas de quem como tu segue o meu blog, no sentido, de abordar temas actuais e de interesse geral, sempre inserido na àrea base da minha formação: Psicologia.

      Este é so o ínicio de algo que se espera ser útil para todos e que mais do que conter informação, possa ser um espaço destinado a troca de ideias e partilha de experiências.
      Em relação ao artigo em destaque, todos juntos podemos contribui para atenuar ou quem sabe dissipar esta problmática, para que não sejamos mais confrontados com noticias lamentaveis e desumanas como as que nos tem chegado através dos meios de comunicação social!
      Basta de injustiça social…
      Beijinho

  2. Sílvia Cristina Costa 18 de Fevereiro de 2011 at 19:40 - Reply

    Concordo plenamente contigo Andreia, aquilo que somos hoje é o que vamos colher amanhã, e o bem que fizermos ser-nos-á retribuído à posteriori.
    Mas infelizmente, para a maioria das pessoas é bem mais fácil levar uma vida desprendida de qualquer preocupação do que deixar o seu lado Humano vir ao de cima……..

    Há imensos casos que espelham esta solidão, aqui retratada por ti Célia, e se pensarmos bem, cada um de nós conhece de perto algum.
    Ainda há pouco mais de um mês tive conhecimento de um triste fim de vida de uma pessoa solitária que convivia com o meu pai, e demais pessoas conhecidas, diariamente num café da freguesia. Aquelas pessoas eram os seus amigos, eram a sua família; aquele local era mais acolhedor do que a sua casa; era lá que se alimentava a cada dia, não só de comida como de amor e carinho. Mas quando a escuridão sobre ele se abatia, era sozinho que se via, na imensa casa que parecia vazia, de tão “despida” que estava…….e assim morreu, igualmente sozinho, sem que alguém pudesse ouvir os seus “ais”, permanecendo ali prostrado até ao dia em que um desses seus amigos achou estranho não o ver há mais de um dia (coisa que não era normal).

    Deixo-vos este exemplo para que, à semelhança do apelo da Andreia, todos nós procuremos ser pessoas mais Humanas, em cada gesto, a cada dia da nossa vida.

    Um bem haja a todos!

  3. Célia Félix 19 de Fevereiro de 2011 at 11:55 - Reply

    Antes de mais queria agradecer estes comentários pertinentes e que vão de encontro à mensagem que o artigo pretende transmitir. Todos unidos, lutando em prol da mesma causa, seremos capazes de desenvolver sentimentos munidos de solidariedade, e de um certo altruismo em relação ás pessoas que não têm o necessário para vivirem dignamente.

    Mais do que publicar artigos, o objectivo deste bog, é gerar discussão e partilhar experiências como a que a Silvia relatou, para que possamos em conjunto criar um espaço dinamico e proactivo.

    Aguardo por futuros comentários ou sugestões…

  4. Teresa Meneses 8 de Setembro de 2011 at 12:39 - Reply

    Parabéns pelo artigo!
    Ora exactamente, eis aqui um artigo que nos permite perceber a solidão quer em crianças, jovens, adultos e séniores.
    Acima de tudo, as pessoas devem procurar apoio porque a solidão só traz mal-estar e tristeza perturbando a vida da pessoa.
    Com certeza que ninguém quando chegar a idoso quer falecer sozinho. Há sempre outras alternativas para combater a solidão, e estão aqui mencionadas :)

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